Hong Kong inicia consulta pública sobre regras fiscais de criptomoedas

Num contexto de crescente clareza na estrutura global de regulação de ativos digitais, Hong Kong dá um passo crucial, apoiada na sua habitual prudência e visão de futuro. Recentemente, o Governo da Região Administrativa Especial de Hong Kong anunciou oficialmente o lançamento de um período de consulta pública de dois meses, visando a introdução do quadro internacional de Relatórios de Ativos Criptográficos (Crypto-Asset Reporting Framework, CARF) e a revisão do atual Padrão Comum de Relatórios (Common Reporting Standard, CRS). Esta iniciativa não só demonstra a determinação de Hong Kong em alinhar-se com os mais elevados padrões internacionais de transparência fiscal em criptomoedas, mas também contrasta de forma marcante e profunda com as políticas de regulação cada vez mais restritivas na China continental, sob o quadro de “Um país, dois sistemas”, destacando a sua posição estratégica única como centro global de ativos virtuais.

Novo capítulo na regulação

O núcleo desta consulta é a adoção do quadro CARF, promovido pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). O CARF pretende estabelecer um sistema global padronizado de troca automática de informações fiscais, dirigido especificamente a transações de ativos criptográficos. Em termos simples, uma vez implementado, as instituições financeiras e provedores de serviços de ativos virtuais em Hong Kong serão obrigados a recolher e reportar às autoridades fiscais informações sobre as transações de ativos criptográficos dos seus clientes. Essas informações serão posteriormente partilhadas através de mecanismos automáticos de troca com outras jurisdições que adotem o CARF.

O Secretário de Assuntos Financeiros e Tesouro de Hong Kong, Christopher Hui, afirmou claramente que a adoção do CARF irá demonstrar o compromisso de Hong Kong em promover a cooperação fiscal internacional e combater a evasão fiscal transfronteiriça. Esta medida não representa uma mudança abrupta na política, mas sim uma evolução natural do sistema regulatório existente. Desde 2018, Hong Kong já realiza trocas automáticas de informações financeiras sob o quadro CRS com jurisdições parceiras. A inclusão do CARF neste sistema visa integrar oficialmente a nova categoria de ativos criptográficos na rede internacional de transparência fiscal, preenchendo possíveis lacunas regulatórias.

De acordo com o documento de consulta, Hong Kong planeja iniciar a troca automática de dados fiscais relacionados com ativos criptográficos com jurisdições parceiras que cumpram certos requisitos a partir de 2028, com previsão de implementação total em 2029. Para garantir uma transição suave, o governo também solicitou opiniões do setor sobre a criação de mecanismos transitórios, com o objetivo de ajudar as entidades reportantes a adaptarem-se às novas exigências sem interromper os sistemas de conformidade existentes. Este planejamento detalhado reflete o esforço do governo de Hong Kong em fortalecer a regulação, ao mesmo tempo em que leva em conta a adaptação do setor e a estabilidade do mercado.

Este movimento de Hong Kong ocorre numa onda de apoio global ao CARF, que até início de dezembro de 2025 já conta com 76 países e regiões comprometidos com a sua adoção. Dados recentes da OCDE indicam que 48 desses países planejam implementar o CARF até 2027, enquanto outros 27 pretendem fazê-lo até 2028. Importa notar que, mesmo os Estados Unidos, anteriormente mais cautelosos, estabeleceram 2029 como seu objetivo. Além disso, 53 países já assinaram o Acordo Multilateral de Autoridades Competentes (Multilateral Competent Authority Agreement), que estabelece a base legal para a troca automática de informações.

Contudo, o ritmo global não é completamente uniforme. Por exemplo, a zona financeira da Suíça adiou a implementação do CARF para 2027, mantendo uma avaliação cautelosa sobre com quais países trocará dados. A proposta da Receita Federal dos EUA (IRS) para aderir ao CARF também está sob revisão interna. Essas diferenças refletem as complexidades de diferentes jurisdições ao equilibrarem inovação, privacidade, segurança e obrigações de conformidade internacional. Ainda assim, a tendência global está clara: a era do anonimato em ativos criptográficos está chegando ao fim, sendo a transparência e a padronização movimentos irreversíveis.

Divergências marcantes

Enquanto Hong Kong abraça ativamente o quadro regulatório global de criptomoedas, a China continental envia sinais contrários e veementes. A Associação de Finanças da Internet da China, a Associação Bancária, a Associação de Valores Mobiliários e outras sete principais associações financeiras publicaram conjuntamente alertas de risco, iniciando a mais severa e abrangente ofensiva contra criptomoedas desde a sua expulsão total de plataformas de negociação e mineração em 2021.

O aspecto mais destacado desta ação foi a primeira definição clara de “Tokenização de Ativos do Mundo Real” (Real-World Asset Tokenization, RWA) como atividade financeira ilegal. A declaração oficial afirma que os órgãos de regulação financeira chineses “não aprovaram nenhuma atividade de tokenização de ativos do mundo real” e as colocam ao lado de stablecoins, moedas fantasmas (como Pi), mineração e outras, como pretextos para captação ilegal de fundos e esquemas de pirâmide.

As preocupações das autoridades chinesas são evidentes. Elas temem que a RWA possa ser uma ferramenta complexa de fuga de capitais, permitindo que indivíduos convertam ativos domésticos em tokens, transfiram para carteiras no exterior e troquem por moeda estrangeira, contornando assim o controlo cambial e bancário tradicional. Juristas analisam que a declaração conjunta estabelece três linhas vermelhas intransponíveis: Classificação como operação de captação: independentemente de como a tecnologia RWA seja apresentada, seu núcleo é visto como um mecanismo de arrecadação de fundos através de emissão e troca de tokens, devendo estar sujeito às leis financeiras existentes, especialmente à Lei de Valores Mobiliários e às regulamentações de combate a atividades financeiras ilegais. Impossibilidade de garantir riscos controlados: mesmo que os projetos aleguem que os ativos são reais, a estrutura dos tokens não garante os direitos legais ou a liquidez dos ativos subjacentes, apresentando riscos de contaminação fora de controle. Declaração de ilegalidade: afirma explicitamente que todas as atividades de RWA não possuem aprovação, afastando qualquer espaço para “exploração regulatória” ou “espera de registro”.

Mais severamente, a declaração criou uma “rede de quatro camadas de bloqueio”, que corta infraestrutura de mineração, bloqueia canais de pagamento de stablecoins, fecha caminhos de RWA e elimina projetos fraudulentos. Além disso, estende a responsabilidade legal para “trabalhadores dentro do país de provedores de serviços de criptomoedas no exterior” e para as instituições e indivíduos locais que lhes prestam serviços. Para os operadores, a única via de conformidade é a “saída total do país”: transferir toda a estrutura legal, custódia de ativos, equipes técnicas e acesso de usuários para fora da China continental.

Essa clara diferença de políticas ilustra de forma vívida a implementação do princípio de “Um país, dois sistemas” no campo financeiro digital. Hong Kong aproveita sua estrutura jurídica e financeira distinta para construir um centro de ativos virtuais regulado e aberto ao mundo. Sua licença para stablecoins já atraiu 80 instituições, enquanto projetos piloto de RWA estão em andamento (limitados a ativos offshore e usuários não continentais). Já a China, por motivos de segurança financeira nacional e estabilidade social, optou por uma estratégia de proibição total e bloqueio.

Conclusão

Cabe mencionar que, no contexto de tendência de maior transparência, o mercado continua à procura de novas possibilidades. Dados indicam que o número de fundações registradas nas Ilhas Cayman cresceu 70% em comparação anual. Profissionais jurídicos alertam que o quadro atual do CARF pode estar mais dirigido a entidades que realizam negociações ativas, enquanto estruturas que apenas “mantêm passivamente” ativos criptográficos, como cofres de protocolo, fundos de investimento ou certos fundos passivos, podem ter uma ambiguidade na obrigação de reporte. Isso levanta uma questão importante: à medida que as regras globais de reporte se tornam mais restritivas, essas estruturas podem tornar-se novos “refúgios fiscais”, e como as autoridades irão reagir a possíveis tentativas de evasão.

Resumindo, a consulta pública de Hong Kong sobre o CARF é uma etapa cautelosa e firme na corrida global de regulação de criptomoedas. É uma concretização do compromisso com a transparência fiscal internacional e uma estratégia para consolidar a sua posição como centro financeiro global. Em contraste com as políticas severas da China continental, destaca-se não só a vantagem de um sistema institucional distinto e uma atuação regulatória diferenciada, mas também fornece um excelente estudo de caso sobre como diferentes filosofias regulatórias podem influenciar o desenvolvimento do mercado. No futuro, a forma como Hong Kong continuará a avançar nesta via de conectar Oriente e Ocidente, equilibrando inovação e conformidade, terá um impacto profundo no futuro dos ativos digitais globais.

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